Experiências pedagógicas adotadas durante a pandemia marcam o terceiro dia dos Seminários Territoriais Saberes e Fazeres
Pelo terceiro dia, os educadores baianos se reuniram para mostrar as práticas de referência desenvolvidas ao longo do ano a partir do Plano de Formação Continuada Territorial, promovido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, por meio do Instituto Anísio Teixeira (IAT/SEC). Nesta quarta (9/12), os Seminários Saberes e Fazeres compartilharam as experiências dos Núcleos Territoriais de Educação do Semiárido Nordeste II (NTE 17), Sisal (NTE 4), Médio Sudoeste da Bahia (NTE 08) e Sertão Produtivo (NTE 13), que juntos abrigam 71 cidades. Os encontros foram transmitidos pelo canal do IAT no Youtube - onde estão disponíveis - e já contam com mais de 12 mil visualizações.
O secretário de Educação Jerônimo Rodrigues saudou os participantes e falou sobre a importância dos Seminários. "Estamos vendo práticas belíssimas, que têm uma carga de emoção, de dedicação, de criatividade sem tamanho. E a intenção dos seminários é justamente essa, botar à mesa, servir esse cardápio. E pense numa mesa farta de experiências, críticas, iniciativas. Esperamos que esse modelo que o IAT vem desenvolvendo fortaleça nossa cultura de formação continuada".
O dia começou com uma prática vinda da pequena Ichu (NTE 4), que possui cerca de 6 mil habitantes. A coordenadora pedagógica Valmirene dos Anjos contou como a Escola Municipal Aloísio Cedraz se organizou para estar perto dos seus estudantes mesmo com a pandemia que pegou o mundo de surpresa. Para que todos continuassem estudando, mesmo aqueles que não possuíam acesso a internet, foram impressas atividades, entregues na casa de cada um, até daqueles que moravam nas oito comunidades rurais da cidade. Depois, eles voltavam com os exercícios corrigidos, num trabalho monitorado por fichas de acompanhamento docente. "Foi muito gratificante ter pisado nesses domicílios. A partir dessas visitas, de ver as condições em que os alunos vivem, os professores passaram a ter um olhar diferenciado. O elo com as famílias ficou fortalecido".
Valmirene destacou a importância da formação continuada nesse processo. "A formação veio num momento propício. Se a gente já estava cuidando do outro, a gente percebeu ainda mais essa necessidade. Os encontros me fizeram reavaliar a minha prática a partir de uma agenda, do contato com a experiência do outro. A educação só tem sentido se a gente puder partilhar nossos saberes”.
Avizinhando territórios, outra coordenadora pedagógica, Maria José Silva, de Ribeira do Pombal (NTE 17) mostrou as práticas de referências desenvolvidas na cidade ao longo do ano. Além das aulas virtuais, os estudantes foram estimulados a criar podcasts e participar de projetos de leitura, como o Intercâmbio Virtual de Leitores. "A função maior da escola é formar leitores. Uma gente mais humana, esclarecida, que tem o poder nas mãos".
Ainda durante a manhã, educadores da rede estadual apresentaram dois projetos potentes que ofereceram aulas aos estudantes do Ensino Médio, especialmente aqueles que já estão se preparando para o ENEM, por meio de lives no Youtube. O Aprova Sisal, do NTE 4, promove aulões, simulados, curso de matemática básica e correção de redação, como contou a coordenadora pedagógica Tamires Martins, de Conceição do Coité. Outro projeto colaborativo, o Avante Semiárido Nordeste II, apresentado pela coordenadora pedagógica Robélia Costa, de Nova Soure, já disponibilizou mais de 15 lives, com cerca de 400 visualizações cada, mobilizando estudantes e educadores da região.
Portas abertas
Uma mesa de abertura cujas falas evidenciaram os regimes colaborativos como essenciais para a educação marcou o início das atividades do período da tarde. Ao falar sobre a garantia ao direito à educação de qualidade para todos, a presidente do Conselho Municipal de Educação de Caetité, Rosany Kátia Silva, enfatizou: "Esse encontro marca a aproximação de dois territórios de identidade. A troca de saberes e fazeres subsidia a tomada de decisões na medida em que acontece a troca de experiências. É assim que a gente constrói uma educação de qualidade, fazendo a troca de experiências, discutindo, buscando encaminhamentos coletivos”. A diretora geral do IAT, Cybele Amado, complementou: “Estamos também nesse conjunto de parceria, fazendo a formação continuada com a UNCME rumo a trazer força para os nossos conselheiros municipais de educação”.
Em relação à parceria entre as secretarias municipais de Educação e a Secretaria de Educação do Estado da Bahia, Juçara Rocha dos Santos, secretária do município de Iguaí, pontuou que “o plano de formação continuada desenvolvido pelo IAT veio fortalecer a colaboração entre estado e municípios na defesa da educação pública.” Em uníssono, ao reiterar a parceria, agora com as universidades, a diretora do Campus VI da Universidade do Estado da Bahia, Marinalva Fernandes, falou da importância de manter “as portas da Universidade abertas para continuar fazendo a discussão sobre a educação, principalmente a educação pública de referência”.
As ações trazidas nas duas primeiras mesas temáticas da tarde mostraram o quanto as redes se mobilizaram para atender aos estudantes e suas famílias na manutenção de uma nova rotina escolar, imposta pelo fechamento das escolas.
No NTE 8, a técnica Ivanilde Teixeira, contou como todos os municípios pertencentes ao território permaneceram realizando formação em ACs com os professores, prosseguiram com a elaboração dos currículos municipais, além de terem promovido capacitações para os profissionais de ensino no uso das tecnologias digitais de informação e comunicação. “Não somos mais os mesmos. As nossas escolas também não”.
Sob a perspectiva da unidade escolar, essa reinvenção foi reiterada pela dupla gestora Tereza Ribas e Jaira Couto, respectivamente vice-diretora e coordenadora pedagógica do Colégio Democrático Estadual Anísio Teixeira, em Potiraguá. Jaira contou que para estarem mais próximos das famílias e estudantes, mantiveram os conselhos de classe a fim de ajudar os pais ainda inexperientes no acompanhamento dos filhos diante da nova experiência escolar imposta pelas aulas remotas. Além de criarem um site, canal do youtube e perfis em redes sociais como o Instagram, eles criaram uma plataforma que chamaram de boletim paralelo. Nele, usam conceitos (ótimo, bom, regular, não se aplica) não para definir a qualidade de execução das tarefas, mas o nível de participação do estudante. “O boletim paralelo serve para que pais e alunos possam estar inteirados sobre os processos da escola”, conta.
A temática do cuidar, que provocou muita reflexão ao longo do ano nas atividades da formação continuada foi contemplada nas discussões através da terceira mesa temática da tarde, que contou com a participação do Colégio Estadual Professora Lia Públio de Castro. Com um trabalho vinculado às competências socioemocionais, a coordenadora Angra Porto apontou para “a grande contribuição da formação continuada territorial, que nos trouxe a possibilidade de refletir sobre nossa prática e aperfeiçoar nossas ações dentro da escola, nos apontando caminhos desde 2019”.
Em total identificação com o tema do cuidar, o coordenador executivo de programas e projetos estratégicos de educação da secretaria de educação do Estado e professor Marcius Gomes, que esteve acompanhando as atividades desta tarde, pontua como observou o cuidado consigo e com o outro em todas as apresentações. “O cuidado é preocupação de todos vocês, seja com os colegas, seja com os estudantes; a nossa juventude que certamente passa por momentos difíceis de caráter emocional e social. Nós temos o grande desafio de pegar na mão de cada menino e menina e trazer para o novo ambiente escolar”.
Sobre as perspectivas futuras, como um dos temas de maior expectativa para uma possível volta às aulas, o NTE 13 desdobrou suas macro ações e estratégias para a estruturação das aulas pós pandemia, através das representantes da equipe técnica Adélia Fagundes e Elielza Neves.
Os seminários acontecem até o dia 15 de dezembro, abrangendo os 27 Territórios de Identidade da Bahia.